Inspired by Iceland

5.10.09

La Bohème



Na 5a-feira passada fui ao Keller Auditorium ver a Ópera 'La Bohème' de Giacomo Puccini.

Quando, uma semana antes, vi os preços exorbitantes dos bilhetes na Internet, fiquei desanimada, mas resolvi ligar para a bilheteira com a esperança de existir algum desconto para estudantes ou ainda algum tipo de bilhetes de última hora, para encher salas, e portanto mais baratos, como se faz muito pela Europa. Para minha felicidade, duas horas antes do espectáculo vendem-se os chamados 'rush tickets' para estudantes e séniores e, bilhetes que custavam 100 dólares, são vendidos por 10 para lugares caríssimos como os da orquestra.

Assim, contentinha da vida, consegui assistir a uma das óperas que mais gosto. Não é das minhas favoritas, mas contém uma das minha árias do coração e espectáculos desta dimensão valem absolutamente sempre a pena, sem dúvida alguma.

Não preciso dizer que, claro está, adorei o espectáculo. Gosto da história, os actores estiveram muito bem, principalmente Alyson Cambridge no papel de Musetta e Arturo Chacón-Cruz como Rodolfo. Apenas achei a Mimi (Kelly Kaduce), personagem central a par com Rodolfo, um pouco apagada demais. Apesar de a personagem ser uma rapariga doente e debilitada que morre no útlimo acto (spoiler!), acho que a actriz exagerou um pouco, não deixou marca e não brilhou. Apesar disso, fez-me chorar (não é preciso muito) na ária 'Si, mi chiamano Mimí', uma obra maravilhosa que eu prefiro ouvir na voz da Callas, claro, ainda que a Renata Tebaldi (uma suposta 'feita' rival da Callas) a interprete também muito bem, num estilo/voz diferente, clássico, mais doce e 'normal', não controverso como era o da Callas.

A experiência de assistir a uma ópera nos EUA foi, no geral, satisfatória, vá. Para não variar, o tipo de público é mais sénior, apesar de ter visto mais jovens do que estava à espera. Algumas pessoas vestiram-se de forma mais elegante e solene para a ocasião, mas a grande maioria (incluindo eu por circunstâncias óbvias) foram muito casuais. O auditório era enorme, estavam ali perto de 3000 pessoas, num espaço gigantesco, aberto, de design moderno e imponente. No entanto, senti imensa falta do espaço clássico, artístico, cheio de brilho e sumptuosidade das nossas salas europeias. O contexto envolvente também contribui para a experiência que se tem e, sendo honesta, quando olhava à minha volta sentia que estava mais num cinema do que num espectáculo clássico. Para além disto, não achei muita piada aos 2 intervalos de 20 minutos cada que fizeram nos dois últimos actos. Cortaram o ritmo ao espectáculo e à história, apesar de os americanos ficarem todos contentinhos por poderem ir buscar mais um café ao starbucks. Algo muito positivo foi o facto de colocarem legendas por cima do palco, o que faz com que seja muito mais fácil compreender e seguir o espectáculo.

Gostei da experiência. Mas gostei acima de tudo porque para mim a ópera é sempre uma experiência positiva. Gosto, adoro, vibro, choro, sonho e vivo intensamente esta arte. É um facto que hoje muita gente não aprecia, não gosta e ignora completamente a ópera. É algo que eu aceito, mas não compreendo. Se não achasse que é uma causa perdida, podia utilizar mil argumentos para tentar dissuadir mentalidades, mudar ideias e explicar porque é que vale a pena, porque é que temos de a preservar, ir aos espectáculos, ouvi-la, discutí-la, apreciá-la. Mas não o faço, porque para tal teria de fazer algo que ainda não consigo fazer e duvido que alguma vez o consiga: falar lucidamente, de forma clara, lógica e racional sobre uma coisa que amo profundamente. O sentimento de frustração e de estar completamente overwhelmed, com um nó apertadíssimo na garganta, não me deixa ir mais além do que um mero: 'é maravilhosa!' Como a Bjork diz, falar de uma coisa que nos toca assim é como tentar enfiar o universo numa palhinha. 'A música celestial' ou a 'música das estrelas' são expressões que, às vezes, conseguem reter uma parte ínfima deste sentimento, apesar da sua simplicidade e de serem até clichês. Conheço algumas pessoas que trabalham muito bem com ópera como som de fundo, mas para mim isso é totalmente impossível. Sinto fisicamente a necessidade de prestar toda a minha atenção e colocar todos os meus sentidos na percepção das árias e daqueles sons.
Enfim, faz-me feliz o suficiente acreditar que muita gente consiga experienciar e sentir a grandiosidade, o poder e a imensidão que árias mais populares como Nessun Dorma (Turandot, Giacomo Puccini) ou Flower Duet (Lakmé, Léo Delibes) contêm em si.

No outro dia, numa das minhas pesquisas pela net, encontrei este artigo que mostra um ponto de vista bem interessante acerca do lugar da ópera na sociedade contemporânea. Se tiverem um tempinho e estiverem interessados, leiam e deixem as vossas opiniões (vá, que o estaminé aqui tem estado um bocado paradote e assim não tem piada!)


O post já vai longo e aposto que, aqueles que sobreviveram, já estão a dormir e a babar-se para cima do teclado, portanto, vou dar o bazo e ler uns artigos para uma aula.

Ciiiiaaoo*:)

3 comentários:

Carine disse...

Só pessoas com sensibilidade suficiente podem entender uma ópera, amiga. Admirar é uma coisa, sentir é outra. E a m´sucia, sem dúvida, está dentro de você. Volta logo pra compartilhar essas experiências e a sua linda voz com a gente! um bjo!

Jane Doe disse...

Amooor!
Um dia vamos ver uma ópera juntas na nossa Paris maravilhosa. Que dizes?;)

Beijo enorme para ti, minha brasuca linda. Tantas saudades!!:*)
3 semanas e estou aí!! weee:D

**

Carine disse...

Ahhh, que idéia maravilhosa!!!! Vou sem pestanejar!

um bj e até breve!

P.S.: Adorei o Owl City, já quero ouvir mais!